25.1.05

A Cor De Seus Olhos - Angela

Cruzador espacial Merkabah. O futuro distante.

Raphael é o bio-engenheiro chefe de pesquisa. Marcos é o capitão. Ivan é o psico-supervisor da tripulação. Angela é uma andróide data com chip emulador de emoção ativado. Seus olhos são prateados.

Ivan a analisa, como parte das investigações do funcionamento do chip; percebe que ela está se apaixonando por ele, mas, como corresponde o sentimento, não consegue afastar-se da função. Raphael percebe, faz queixa formal a Marcos; Ivan está prestes a ser preso por desacato quando os neo-sofistas atacam a nave. Angela se põe na frente de Ivan para protegê-lo, arremessando-o num módulo de fuga. Só ele escapa, amaldiçoando ter sido fraco, pensando que deveria ter sido ele a se jogar na frente dela, com a estranha sensação de que, em algum outro lugar e momento, foi ou viria a ser exatamente isso que ele faria.

Tempo.

A República, como Platão imaginou que seria.

Raphael é um guardião. Marcos é um guardião. Ivan é um guardião. Angela é uma guardiã. Os olhos dela são da cor do mel. Na noite do ritual, quando os homens deitam-se com as mulheres designadas pelos conselheiros, Raphael é designado para Angela por ser considerado superior como aluno. Mas ela deita-se com Marcos. Ivan os delata. Angela é capturada e Ivan a executa no cativeiro, por vingança. Marcos condena o modo de vida da República e inicia uma rebelião. Mata Ivan, Raphael e os conselheiros. A República cai.

Tempo.

A Encruzilhada das Dimensões. Uma raça de imortais.

Raphael é o Sábio. Marcos é o Guerreiro. Ivan é o Adivinho. Angela é a Sacerdotisa. Os olhos dela têm cores diferentes entre si. Ela escolhe Raphael, mas entre os imortais, Sacerdotisas só podiam gerar filhos de Adivinhos. Angela e Raphael são exilados. Refugiam-se num plano distante e vêem Angela escolhendo Marcos e, de outra feita, Ivan; aquilo perturba o Sábio, guia das viagens planares. Sem a concentração, eles se perdem, e permanecem perdidos um do outro para sempre.

Tempo.

Uma pequena comunidade matriarcal de agricultores. O passado distante.

Raphael é mestre dos tecelões. Marcos organiza a defesa da vila. Ivan consulta as estrelas para saber a época das colheitas. Angela é a chefe. Seus olhos são castanhos claros. Ela se dá o direito de escolher os três ao mesmo tempo, casa-se com todos. Deitam-se juntos, na mesma noite; não podem saber de quem é o filho. O ciúme, em 3 anos, leva Marcos a matar Raphael com a lança; Ivan a matar Marcos com um dardo envenenado; a tribo a executar Ivan numa grande pira; Angela a jogar-se de um penhasco.

Tempo.

Ninguém se importa com a cor dos olhos dela. Ela se muda para a Inglaterra antes de ter de escolher.

Tempo.

Os olhos dela são castanhos escuros. Ao ver a briga no meio da peça, ela berra dizendo que eles são todos iguais, e escolhe a solidão.

Tempo.

Os olhos dela têm a cor do breu. Na praça onde Angela morou quando criança havia uma árvore, na árvore havia uma jóia multi-facetada. A Jóia do Mundo de Kardios, companheiro de Ethos, artefato lendário, de alguma forma a mesma jóia; Angela vê tudo nela; vendo tudo, é tudo, e, sendo tudo, não escolhe nada.

Não há totalidade na escolha, nem escolha na totalidade.

E há, na realidade, apenas uma Angela, apenas uma história, apenas uma escolha, apenas um dos três é seu amor. Sempre houve somente uma história. Sempre haverá somente uma. Somente uma cor para seus olhos.

Mas ainda não se sabe qual.