5.1.05

Talento

Acabo de ler, de novo, um exemplar daquela frasesinha (frasinha seria melhor?) manjada do Drummond, ou qquer variável dela aplicável em qquer campo de ação humana desde que o filho da puta do Calvino botou seus planos diabólicos em movimento (e o engraçadinho pergunta, "quem seria a puta do Calvino?"): poesia é 99% traspiração e 1% inspiração. Dessa vez não era poesia, não, era pintura; qquer um resolve usar essa frase pra dar a impressão de que é um batalhador, de q deu tudo de si no q fez, etc.

Drummond crer q qquer um poderia alcançar seu talento munido apenas de força de vontade e dedicação é a maior tapada de sol com a peneira já registrada; não lhe aplico o rótulo de idiota, chamemo-lhe apenas vítima de seu tempo, como qquer um. O sonho da igualdade exige esse destino incerto, alterável pela vontade apenas, e não determinado pelos sinais do passado, uma linha q vai se alterando conforme o presente mas não ao léu, justa, dependente do mérito, uma justiça humana irreal, numérica, organizada, balanceada, igualdade esta que nunca vai acontecer, quebraria a mais certa lei da vida: igualdade é um porre; amolação não rende história e mesmo o porre tem q ter cabimento narrativo. Chamar o gênio de cagão - como foi feito nos comentários abaixo - é redundância, nascer com talento é uma cagada, nascer com as condições pra usar seu talento é mais cagada ainda, e ter facilidade pro esforço é talvez o melhor talento, uma cagada monstra, enfim, a injustiça por excelência depois, quem sabe, do amor. Uma beleza.

PS: a dependência da inspiração é evidente neste blogue, cujo número de postagens já declina. Como era? Uma beleza.