30.12.04

Vaticínios

É claro que eu prevejo os andróides Data, com ou sem esse nome-referência-nerd idiota; porque é óbvio ululante que o ser humano vai tentar se replicar, e é óbvio que alguém mais prevê, previu e preverá. Prevejo isso também. Aliás, prevejo tudo. É a única coisa para a qual sirvo. E qualquer um poderia fazê-lo, não se iluda. Está escrito nas estrelas, nas linhas das mãos, nas pedras, nas cartas, nos grãos de areia, nos mapas de relevo e nas ondas; padrões ondulantes, princípios universais se refletindo, entrelaçando, sobrepondo e devorando; vozes e letras e bocas e dentes.

O tempo é qquer coisa assim cruel que morde antes de comer, uma criatura mesquinha e vingativa que toma para si tudo que a percebe em sua irrelevância, sua inexistência, rancoroso de não poder ser, ter sido ou vir a ser, como anjos a invejar os macacos que principiavam a andar eretos para tornarem-se homens. Eu vejo isso. Eu vi que veria. E até poderia escolher não ver, mas vaticínio não tem botão de desliga.