16.12.04

O Abismo de Narciso

Você tem que me ajudar, ele dizia, tem que me ajudar. Eu a matei, matei e o sangue não sai da minha roupa, o sangue não sai nem da minha mão e não vai sair nunca. Você já fez isso, você já esteve na minha pele, já matou, já falhou em proteger.

Sim, responde Philippo.

Já pecou.

Sim, responde Philippo.

E até hoje o arrependimento o persegue, o sangue não sai da sua roupa, ele chorava quase babando na roupa, na barba. Sim, eles eram irmãos de culpa, irmãos em sua miséria.

Philippo estendeu-lhe a mão para oferecer abrigo.

Mas o outro não levantou - puxou-o pelo braço e sacou da faca, rindo macabramente por debaixo dos trapos imundos.

Os piores abismos parecem espelhos.