15.12.04

Unless Hector Falls By My Spear

Alessandro deixou-se cair sobre a cadeira, sem tirar os olhos da tela do computador e, ao mesmo tempo, sem enxergá-la.

As palavras de Aquiles ainda pairavam ali, à sua frente, no inglês mal-traduzido, proseado, que ele tinha ido verificar por diversão.

"For now you shall have grief infinite by reason of the death of that son whom you can never welcome home- nay, I will not live nor go about among mankind unless Hector fall by my spear, and thus pay me for having slain Patroclus son of Menoetius."

Ele já nem sabia quantas vezes tinha lido esta passagem, ou mesmo o texto na íntegra, em quais versões e em quais línguas. Julgava compreendê-lo em todos os sentidos possíveis - mas naquela tarde, subitamente, a lembrança o atingiu como um soco no estômago.

Ele retornou ao XI cântico e chegou a recitar as palavras conforme recordava, no homérico original - o trecho em que Agamenomne matava Pisandro, filho de Antímaco.

Havia mais de um Pisandro. Na verdade, havia muitos. Era um nome comum.

Não havia uma profecia que ligasse, de forma misteriosa, seu nome aos eventos do velho épico - mas mesmo que houvesse, em que isso o inocentava? Não tinha ele, como Aquiles, até como Heitor (Three times have I fled round the mighty city of Priam, without daring to withstand you, but now, let me either slay or be slain, for I am in the mind to face you) escolhido o destino que para ele havia sido escrito? Não escolhera ele falhar? Não tornara sua vida uma emocionante tragédia?

Havia.