15.12.04

Oráculos

E quem ousaria dizer nunca ter feito o mesmo?

Quem, em sua diminuta condição humana, não buscou desesperadamente uma justificativa objetiva de suas próprias escolhas?

E afinal o que é a razão, a matemática, a ciência, a crítica? O assombro diante da multidão qualitativa da vida, a tentativa tosca e falseada de quantificar, criar um método de escolha ilusoriamente separado de seu criador.

"Não é que eu prefira a tragédia", argumente Aristóteles, da hoste dos barbudos escrotos, "mas os critérios de julgamento racional elucidam que ela é superior à comédia."

"Não é que nós o tenhamos escolhido", dizem o examinador, o espectador da corrida de fórmula 1 ou o torcedor do flamengo, "mas ele provou ser melhor".

Sim, sim, repitamos o mote. Eu não escolhi uma vida medíocre, o mundo é assim mesmo. Não é que eu não goste de fadas e fantasmas, mas está comprovado que elas não existem. Não é que eu acredite em Deus, mas a lógica (sim, é claro, Agostinho) demonstra racionalmente a necessidade de um criador absoluto e todo-poderoso. Não é que eu odeie a burguesia, ela é inimiga do povo. Não é que eu goste desse programa, mas não tem nada melhor pra fazer. Não é que eu tenha escolhido ser bicha, está no DNA.

Nasci assim, acontece assim, é assim que é. Não é minha culpa, não fui eu, mamãe! Não fui eu! Eu não pude fazer nada!

Shhh, calma, calma. Não foram vocês, foram as parcas, as fúrias, as rodas do destino. Foram os oráculos! Febo Apolo feio, feio, feio! ai ai ai!