2.2.06

Deve Ser Engano

Omar sacudiu na cama ao som manso e repetido da campainha. Nem ela nem a sua boca, seca pela cerveja do dia anterior, pareciam-lhe motivo o bastante para levantar. Tinha sido uma noite medíocre, porém regada por latas a perder a conta, e exaustiva. Olhou o relógio e calculou apenas 2 horas entre a última vez que o fizera. Então optou por apenas gritar:

- Quem é?!
- É A MUDANÇA. - uma voz suave e profunda ecoou do corredor.
- Mudança? Olha. Deve ser engano!
- ACHO QUE NÃO. AQUI É O 402, NÃO?
- O 402 é aqui!
- SIM.

A merda do álcool ainda não tinha abandonado sua cabeça. Puta vontade de soltar um palavrão.

- Olha, moço, não tem nenhuma mudança, entendeu? Não tô me mudando daqui, quem vai se mudar é o vizinho aí, do. Aí do lado.
- QUAL?
- E eu sei lá porra! - pronto, soltou.
- TENHA CALMA, OMAR.
- Calma é o caralho, você vai conferir o número aí, ou então vai incomodar os vizinhos também um por um, mas eu não tô de mudança, nem vou tá tão cedo! Vai embora!
- SE É O QUE QUER...

Ouviu passos se afastando, e mais nada, então voltou a dormir. Só muito tempo depois foi perceber que o sujeito havia dito seu nome; mas não permitiu que aquilo o incomodasse.

* * *

Outro dia, pouco menos de uma semana depois. Outra ressaca, um pouco mais de tempo dormido, e a mesma campainha. Omar novamente recusa-se a levantar.

- Ô caralho, de novo... - olha o relógio, vira-se pra porta. - Quem é?!?!
- É o tempo.
- Eeeeeita...

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A partir do relato de Alexander.

Editado: as formatações nos textos dos interlocutores de Omar também foram sugestões do Alexander.