28.1.05

Tira De Mim



"eu não acredito em tudo que eu mais quero
mas vivo a sonhar com você a me beijar
e essa dor que sara faz viver e acordar pra mim
eu quero ver você dançar
em cima de uma faca molhada de sangue
enfiada no meu coração"

- Mombojó, "Faca"

a pedra é fria sob minhas costas nuas e já são mais de três da noite e o caçador já desceu no horizonte fugindo e agora a sétima estrela é visível nas garras do escorpião e o canto está começando.

são três cantos.

ela não me mostra o rosto mas eu sei que está sorrindo e eu ainda estou segurando a faca firme e ainda estou morrendo de medo mas não é um medo como os outros é como um medo do sucesso e não vou mesmo ficar vivo muito mais tempo não quero. ela soltou os cabelos. está me pedindo a faca e eu imediatamente lhe dou segurando na ponta e ela pega pelo cabo pesado encrustrado de jóias vermelhas que dizem ser a cor do meu coração que eu não posso mais suportar que continue assim batendo desse jeito e agora estão começando o segundo canto.

eu a amo.

não posso mais suportar isso que continue assim batendo assim me enchendo desse sorriso estéril me tornando uma pessoa pior inútil sem rumo. ela está se despindo. eu fiquei ainda mais feliz quando o velho disse que eu estaria no altar quando a sétima estrela estivesse de novo nas garras do escorpião e aquilo me deixou perturbado mas quando soube que seria ela comigo eu não fiquei mais porque eu a amo e agora estão começando o terceiro canto.

e quando terminar eu vou estar curado.

eu fico quase paralisado e digo a ela enfia a faca logo me mata me faz sentir dor deixa a dor me curar eu quero ver meu sangue quero morrer vendo meu sangue manchando a sua pele a sua boca me enfia a faca e me beija. ela enfia a faca e me beija. bate na faca com a mão. a dor é tão grande que eu não grito não consigo gritar e mesmo que tentasse ela me tapa a boca e me suga o ar e eu solto só um gemido fraco e ela diz eu te amo e eu quero responder também. e ela chora. e eu também devo estar chorando e é tudo tão triste e eu não sou mais estéril não sou mais inútil sou a morada da tragédia e da poesia eu digo a ela chora por tudo que é sagrado chora chora muito lamenta e sofre e agradece sempre quem te machuca e me dá a solidão me dá a tristeza.

tira de mim a alegria.