13.8.05

A Roda da Fortuna Ainda Gira

Charles, não devia dizer, não sei se vocês sabem. Charles era sonâmbulo e escrevia bilhetes em seu sono. Charles mudou de nome. Charles explodiu uma cidade e foi embora pra vida. Caramba, ele sempre acaba fazendo isso, embora seu nome nem sempre seja Charles.

Charles tem um monte de histórias.

Ele já morou em um castelo, já venceu uma guerra, um campeonato de dardos, um gladiador e um enxadrista. Ficou milionário na bolsa e perdeu tudo no dia seguinte. Matou um amigo e fez amizade com um morto. Caiu de um precipício ao contrário e quebrou o joelho. Charles já acertou um golpe numa sombra, já fez nevar, chover e secar. Teve uma moto com rodas laminadas, uma mulher sem nome, um baralho feito à mão, um lenço vermelho, um capote marrom, botas negras, um anel, um brinco, um relógio quebrado. Charles já pisou em dois mundos ao mesmo tempo, já morreu sem morrer, já tirou um coringa num jogo de pôquer e um pôquer num jogo de coringa.

Charles quase nunca fixa os olhos. Charles não se importa com nada. Charles se acha especial. Charles é um atirado. Seus olhos têm a cor do exagero, seu coração, a anestesia do excesso.

Ele caminha pela Roda há tanto tempo, que já nem sabe se está na borda ou no meio.