5.8.05

Emoi De Ke Kerdion Eiê Seu Aphamartousêi Chthona Dumenai

Heitor deixou-se cair sobre a cadeira, sem tirar os olhos da tela do computador e, ao mesmo tempo, sem enxergá-la.

Ele já nem sabia quantas vezes tinha relido aquela passagem, pois se havia algo que relia e decorava era a si mesmo em suas inúmeras auto-revisões. E se havia algo que quebrava eram as promessas que fazia a si mesmo, escritas em notas para que não esquecesse, por vezes escondidas em arquivos secretos, noutras, à plena vista do público, veladas por inúmeras auto-referências obscuras.

Pela primeira vez em muito tempo, quis ver-se livre de suas crendices e de sua mania de dramatizar a vida. Quis voltar atrás o que lhe ensinara a experiência, e ver-se um pouco mais inconseqüente, sem medo, desapegado, exagerado. Ação apaixonada? Talvez esta não precisasse voltar atrás; mas voltasse a palavra não dita, o sentimento não expresso. Um pouco mais aberto, sincero, coerente com o pensar e o sentir.

Achava que tinha mudado, mas mudara pouco perto do que permanecia: era o mesmo em seu arrependimento, como há anos são as palavras de Andrômaca, que ele sem perceber direito buscava como expressão de si.

Ele preferia, como ela, que o chão se abrisse.
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Ah, o imperdível sentimento de tornar-se persongem em seu próprio blog. Alguém acreditou que não teria volta? Vingança, vingança...