4.8.05

Em se tratando de gente

Aprende-se a odiar o descompasso de calendários entre certos estabelecimentos de ensino. É simplesmente maravilhoso; acho que é meu 5° ou 6° ano sem férias. Eu não consigo ter folga nem na greve.

Deixando de lado a natureza semi-escrava de meu comprometimento com a profissão. Acredito que já me referi ao Dr. Ramirez aqui no passado; também espero que ele não tenha lido o que foi dito, pois se bem me lembro, duvido que ele viesse a gostar. Conheci Cristovam num encontro aleatório em uma lanchonete da UERJ enquanto fugíamos de nossos compromissos; ele não reside aqui - pensando bem, não reside em lugar nenhum - mas mantém um contato eletrônico razoavelmente freqüente (vejam, vejam, lembrei até da trema! Devo estar me curando!). E, descontando o nome de ator mexicano, é uma pessoa inusitada e muito interessante.

Mandou-me ontem de tarde estas opiniões, que diz ter formado a partir de uma conversa nossa de cujos detalhes irei poupá-los. Pensei em "Algumas Orientações Negativas Sobre o Comportamento Humano" como nome para o texto da maneira como ficou. O leitor reparará que não há nada de muito original nelas, mas, ainda assim, achei divertido; como ele dissesse que não via problema na publicação, não sou eu que verei:

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Em se tratando de gente, o que tenho a dizer é:

- Não conte com mudanças, elas são a exceção. Você pode torcer por mudança, mas amigo, não conte com ela, porque até os sujeitos que mudam o tempo todo acabam é não mudando de verdade.

- Também não conte com fidelidade ou ética total, nem de você pra você mesmo, porque afinal de contas nada como auto-sabotagem.

- Não espere que ninguém se diga dono do próprio nariz o tempo todo. Todo mundo só faz isso até o dia em que se fode todo e prontamente joga a culpa em outra pessoa.

- Também não existe ninguém que não se culpe nem se arrependa de alguma coisa.

- Por outro lado, não pense que todo mundo que se culpe ou se arrependa irá sempre admitir abertamente, porque essas coisas acabam escapulindo em todo tipo de lugar, menos onde deveria.

- Não confie em palavras, confie em atos. Eu sei que palavras também são atos, mas quando você pensar nas palavras como atos e não como palavras, vai ver que faz diferença pra caralho.

- Mas o mais importante, o que não dá pra fazer de jeito nenhum é pensar demais. Quem pensa demais sobre gente só viaja, se preocupa e inventa um monte de motivos malucos e coisas malucas que vai começar a pensar que a outra pessoa está fazendo ou pensando. Além disso, todos que teorizam que o ser humano é uma rede muito complexa e intrincada de motivos são idiotas. Certo que nossas atitudes são complicadas, às vezes, mas por trás de toda teia de atitudes complicadas, se você conseguir procurar certo, vai achar um motivo simples e um desejo simples, vaidade, prazer, atração, rejeição, culpa, frustração, tesão, essas coisas. Não tem erro.

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A propósito, antes que alguém questione, Cristovam tem formação nas áreas biomédicas e não possui um pingo de autoridade acadêmica sobre o comportamento humano; sua suposta autoridade no assunto não vem de outro lugar além de sua própria experiência e presunção.