19.12.07

Alessandro

Oi.

Tenho muitas coisas que posso dizer sobre este blog e, particularmente, sobre os últimos posts. Vou dizer só algumas sobre o blog, porque senti que seria bom, e sobre Alessandro, de tabela. Tenho tentado, já há algum tempo, cada vez mais segurar minha forte tendência de explicar demais minha literatura de ficção - que só faz ficar mais forte conforme sigo (ou tento seguir?) na carreira de professor e pesquisador, onde afinal, estou sendo pago para explicar. Não que advogados sejam muito diferentes nesse sentido.

Por outro lado, o resultado infelizmente muito freqüente (pelo menos bem mais do que eu gostaria) dessa postura é que ninguém entende porra nenhuma, ou, pior, entende algo completamente diferente do que imaginei. Tá, tá, eu sei que parte da graça é deixar a obra aberta a interpretações - mas se há tanta diferença entre intenção e resultado, é sinal que provavelmente alguma coisa está dando errado, e provavelmente a culpa é do autor. Então vou me permitir "explicar" algumas coisinhas a respeito deste blog, particularmente aquelas que já não funcionaram, porque, até onde posso imaginar agora, o post anterior encerra definitivamente as atividades de Alessandro por aqui.

Pra começar, se você é um leitor atento - e sei que são poucos leitores - terá reparado que este é o primeiro post em primeira pessoa assinado com o meu nome (descontado um erro que cometi um bom tempo atrás), isto porque era parte da premissa do blog escrever apenas ficção, mesmo que travestida de realidade via Alessandro como narrador. Então, era essa mesma a idéia: uma nova estorinha com o Pisandro, narrada por ele como o romance havia sido, mas num formato de blog, até porque este era mesmo próximo do tom intimista do primeiro.

Aconteceu? Difícil dizer. Em muita coisa vejo agora que faltou coerência - a começar com a brincadeira que acabei fazendo com alguns dos leitores que acharam que Alessandro era uma pessoa de carne o osso: ao invés de esclarecer, encorajei essa interpretação ou simplesmente não esclareci nada, o que certamente só obscureceu a real natureza dos textos e colaborou para manter o template sem nenhuma explicação. Pra piorar, respostas dele aos leitores nos comentários. Depois, a péssima idéia de fazer Alessandro conversar comigo em alguns dos primeiros posts...

Mas certamente o que mais dificultou foi a inexistência de um estilo marcado, que diferenciasse a escrita de Alessandro da minha. No começo, então, quando ele estava "em crise" e deixando de lado coisas como formatação correta, então, era pior. E ele ser parecido comigo era boa parte da graça - que não justifica, pelo contrário, piora, a falta de algo que distinguisse ou evidenciasse indiretamente essa diferença. O formato pelo qual conduzi a estória, isto é, posts opinativos que chegavam mesmo a lembrar os de meu blog anterior, também nada fizeram para tanto. Fechando tudo isto, estavam meus contos e crônicas, misturados no mesmo blog, descaracterizando-o como a proposta de contar uma estória em particular. E no fim das contas, a evidência que o leitor tinha para entender que Alessandro era o narrador de uma estorinha contada através de seus posts era apenas e somente a de que seu nome, e não o meu, era o que os assinava.

Vivendo, aprendendo, e esquecendo. Já Alessandro, continuo gostando dele, da forma que imagino seja típica para autores que gostam de personagens com pesados toques autobiográficos. Especialmente levando em conta o número crescente de "divinações" reveladas na estorinha dele (por isso entendendo-se coisas que acontecem com o personagem e depois aconteceram com o autor) que, no fundo, mostram de certa forma que ele é mesmo meu herói e que, quando crescer, quero ser como ele - e aí já vai a confusão de quem quer ser quem.

E claro, parte do que gosto de Pisandro é que ele é um babaca - mais ou menos do mesmo jeito que gosto de Kryptus porque é um tirano homicida - e, como tal, me permite escrever babaquices em primeira pessoa (certo, mais babaquices do que o normal). Mais que isso, talvez, é muitas vezes meu alvo para a brincadeira do "do contra", em que o autor brinca de fazer seu personagem dizer, pensar ou agir exatamente da forma oposta a dele, pelos mais diversos motivos - o que, diga-se de passagem, funciona melhor ainda com os tais toques autobiográficos. Ou ainda porque, por ele ser um tolo (e ele é), com isso poderia ter a prerrogativa de dizer verdades que tolos dizem.

Claro, mesmo que herói, herói trágico, então ponha-se sérias restrições na parte de "quero ser quando crescer". A bem dizer, embora "oficialmente" mais velho, Pisandro é a criação de uma cabeça de adolescente, vivendo como um analfabeto emocional mascarado de Doutor - no fundo, penso que é esta a causa maior de seu pessimismo, angústia e revolta: que permaneça preso nas questões da adolescência.

E mesmo os personagens mudam, seguindo os tempos e, naturalmente, seus autores. O que tudo isto significa para este autorzinho aqui não é questão para este blog, mas sinto que o tempo desta estória, e mesmo dele, já passou. O que farei com o site não sei ainda; já tem sido cada vez mais difícil vir aqui escrever, mesmo estes posts de encerramento, e tenho outros projetos. Então, a princípio ele fica assim mesmo, parado, meio morto, até que eu ou tenha a disposição de revivê-lo com algumas das coisas que venho escrevendo ou começar outro.

Até esse dia.