9.2.07

Resistir é Preciso, Viver ...

Mas naquele momento subiu-lhe pela espinha um ímpeto repentino, palpitou-lhe no imo do peito um desejo irresistível de resistência, um ranço odioso sobre o qual empilharam-se todas as injustiças a que fora submetido em vida, grandes, médias, pequenas.

E ao ver o alvo de seu ódio aproximar-se ao longe, percebeu que o medo desaparecera. E que não se importava mais que o risco de derrota e até da morte fosse grande, e a chance da vitória, pequena: a enorme massa metálica que aterradora no horizonte parecia-lhe insignificante; e justamente o pedaço de terra sob o qual pisava, que tanto ouvira ser chamado insignificante, é que lhe parecia o mais precioso bem do mundo.

"Basta!", pensou. Bastava de fugir, de correr, de ceder! Chega-se a um ponto em que é preferível mesmo morrer tendo-se defendido de modo adequado, a viver de outro.

Podia mesmo ouvir, ao longe, o lamento de seus companheiros, implorando para que considerasse. Mas sua decisão era definitiva; sua determinação, absoluta.

- Zeca. Zeca! Sai daí, Zeca!
- Não posso, meu amor. É algo que tenho de fazer.
- O carro, Zequinha, o carro vai te atropelar se você não sair daí.
- Eu estou na faixa de pedestre, Lucrécia.
- Mas, Zequinha -
- Nada de mas, meu amor. Chega de injustiça: eu preciso resistir.
- Você é que sabe...

* * *

Moral da história: esse negócio de lutar contra a injustiça a qualquer preço, meninos e meninas, é uma furada.