2.8.06

Isso É Tolice...

"Ela decidiu que não me ama mais."

As palavras da abertura do segundo capítulo de "Vidas Breves" são, agora, mais que apropriadas, inevitáveis.

Sei que tenho muito a dizer, e não sei se ainda acredito em uma palavra sequer de qualquer pequena gota de convicção que eu tenha enunciado aqui no passado - e não direi nada, por ora. Talvez se, ao falhar em retornar ao mundo, não encontrando mais lugar para onde me refugiar, eu necessite buscar abrigo nesta farsa comunicativa. Por enquanto, basta dizer quase nada para anestesiar um pouco os sentidos e fingir partilhar a dor.

Que mais posso dizer? Que há do que me arrepender, mas quase nada. Afinal, eu já sabia que ia me foder todo, não? Cheguei a escrever aqui, redigido com todas as letras: "vou me foder todo". A auto-profecia é sempre a mais fácil, o sofrimento por amor, o mais tolo - mas ainda assim são aquilo que Morpheus, e todos que costumam caminhar um pouco demais em seus reinos, mais costumam praticar.

"Isso é tolice...

Por que sofrer tanto? Eu mal a conheci. Um punhado de meses, pouco mais...

Eu lhe teria dado mundos só seus, atados como safiras e esmeraldas num cordão de seda. Eu lhe teria dado...

Eu não paro de pensar em seus olhos, fitando o infinito. Olhos frios, avaliando-me desapaixonadamente...

E, no fim, ela me disse. Mas eu já sabia. Estava lá, em seus olhos.

Ela tinha decidido não me amar mais."