28.7.05

Esclarecimento

Tive uma folga de alguns minutos e achei por bem de fazer um breve esclarecimento.

Creio que o encarecido Leo Corba, comentando o conto "Bilhetes", estava aludindo a esta pequena história:

"Once I, Chuang Tzu, dreamed I was a butterfly and was happy as a butterfly. I was conscious that I was quite pleased with myself, but I did not know that I was Tzu. Suddenly I awoke, and there was I, visibly Tzu. I do not know whether it was Tzu dreaming that he was a butterfly or the butterfly dreaming that he was Tzu. Between Tzu and the butterfly there must be some distinction. [But one may be the other.] This is called the transformation of things."

Sem querer abusar de meu escarço tempo livre ou da boa vontade do leitor, ouso comentar que:

1. Chuang Tzu (ou Tsé), embora tenha sido talvez o maior doutrinador taoísta depois do próprio Lao-Tsé (ou Tzu), não era monge merda nenhuma.

2. Há semelhança entre um e outro, sim, é claro. Porém há também muitas diferenças, e eu diria que o tema mesmo é uma delas... mas pode ser só impressão.

18.7.05

Fim de Semestre

Senhores e senhoras, fim de semestre é uma porcaria. Maldito seja o calendário atrasado da UERJ, malditos sejam os funcionários preguiçosos, a falta de contratações, e toda forma de tentativa de jogar o lixo pra debaixo do tapete e fazer tudo correndo em cima da hora pra apresentar pro MEC avaliar e parecer que somos uma maravilha. Não sei o resto; eu pelo menos sou uma farsa, e em alguns anos me conformei com o status.

Não é falta do que escrever, leitores, é a merda do fim do semestre.

7.7.05

Bilhetes

Charles tinha uma vida razoavelmente normal. Solteiro, recém-chegado aos 35, morava em um apê meio medíocre no meio da Glória que pelo menos era melhor que a casa de sua mãe, para onde tinha ido após uma última tentativa de morar com estranhos, precedida por outra de morar com a ex-namorada (morar com namoradas, ele agora diria com certeza, tinha por hábito transformá-las em ex). Estava empregado no setor de cobranças de uma financeira - cooperativado, sem carteira, férias e essa coisa toda de, bem, de direitos.

Tudo bem, era uma vida bastante entendiante. E frustrante. Mas ele tinha geladeira, TV, um computador velho, renda fixa mínima e um diploma de 3° grau (que nunca servira pra absolutamente nada, mas tinha) e sentia-se pouco à vontade para reclamar, considerando como a imensa maioria da população humana vivia na pobreza, miséria e/ou inanição, e ele era um privilegiado e coisa e tal. Mas reclamava de quando em quando, baixinho, assim mesmo, em seus piores dias.

Charles era também um falso metódico, e tinha mania de deixar bilhetes para si mesmo grudados pela casa, lembrando-se de coisas ou fazendo piadinhas idiotas. Nada que tivesse o hábito de funcionar. Talvez por isso tivesse demorado a perceber um bilhete na geladeira - onde havia dezenas deles - que não estava escrito com seu garrancho habitual, e sim com uma fonte arial 14, com jeitos de fim de cartucho de impressora jato de tinta, onde se lia: "vamos tomar uma qualquer dia desses?"

Depois de eliminar a hipótese de ter feito uma brincadeira tão estranha consigo mesmo e esquecido, e arrancar dos demais possíveis suspeitos (seus poucos amigos) juras de inocência, Charles já estava um pouco temeroso quando, vendo um novo bilhete precisamente no mesmo lugar, quase teve um troço. Semelhante ao anterior, desta vez dizia "pode ser hoje, ali no boteco da esquina, o que acha?".

Pensou um bocado antes de decidir que não era esperto o bastante para decifrar o que diabos era aquela brincadeira ou para bolar um jeito de frustrá-la e pegar o culpado, nem muito menos possuía força de vontade o bastante para conter sua curiosidade e ignorá-la. Logo, fez exatamente o que o bilhete dizia, tomando uma cerveja enquanto esperava o engraçadinho aparecer, primeiro sozinho, depois com alguns amigos que costumavam perambular por lá, até levantar a hipótese de tratar-se de um ladrão que desejava apenas tirá-lo de casa para saquear seu pobre apartamento, pendurar a conta e sair correndo pra lá. Aliviado, constatou que nada se passara à suas escassas e preciosas posses; sentiu o peso do cansaço e acabou capotando na cama, vestindo apenas as mesmas calças que usara o dia inteiro - que eram, diga-se de passagem, suas melhores calças.

Quando acordou ainda as vestia, mas isso era a única coisa que não havia mudado.

O despertador a seu lado era cerca de 4 centímetros menos largo, no mínimo 5 anos mais novo do que o que se lembrava de possuir, e marcava 10 e meia, precisamente 1 hora e meia a mais do que o horário no qual ele deveria ter se apresentado no trabalho, e 2 horas e meia a mais do que o momento em que a maldita máquina deveria ter cumprido sua função e tocado até arrancá-lo da cama. Essa foi a primeira diferença de que ele se deu conta. As demais foram, nessa ordem:

Ele dormia numa enorme cama de casal de forro branco. Seu quarto era uma suíte pelo menos duas vezes maior do que quando tinha ido dormir, com paredes limpas, armários gigantescos recheados de roupas caras, masculinas e femininas, aparelho de DVD, televisão 29 polegadas, e uma varanda. Seu apartamento era uma cobertura 5 quartos nos arredores do shopping da gávea, com acessórios extremamente interessantes como piscina, um lap top, um computador normal, 2 outras TVs, 3 estantes de livros, 2 de discos e CDs, uma mesa de jantar de vidro com 8 lugares, uma faxineira, e fotos de uma mulher lindíssima espalhadas pela casa, abraçada com ele em muitas delas. Ah, e sua identidade, que encontrou em uma carteira de couro negro de uma marca que ele nunca se dera ao trabalho de registrar o nome, de tão inacessível, junto com outra foto da moça, atestava com certeza oficial que ele era 5 anos mais novo como, de fato, se sentia.

Quando o telefone tocou ele ficou até com medo de tocá-lo, pensando se tudo aquilo não ia desaparecer por mágica. Do outro lado, uma voz alegre de mulher o chamou de querido, e ele subitamente soube que era a moça da foto, e que ela era sua esposa.

Chamava-se Helena, e o convidou para almoço. Preocupado com o horário do seu trabalho, Charles não tardou a descobrir que agora era um escritor de renome (e vendagem) nacional, e que basicamente tinha o direito de fazer seu próprio horário, ou mais importante que isso, querendo, viver de renda. Tinha também um motorista-segurança, que tratou de dispensar após uma hora de conversa agradável, para ter o prazer de dirigir o Audi que encontrou na garagem.

Teve um almoço maravilhoso com Helena em um restaurante suficientemente confortável no centro da cidade, onde lembrou-se/descobriu (as duas coisas iam ficando mais e mais parecidas com o tempo pra ele) que ela na verdade lecionava na UERJ, longe dali, e naquele dia tinha ido apenas resolver burocracias. Passaram o resto do dia e da noite juntos.

Ela o acordou para ir ao trabalho e ele, mesmo sonolento, a acompanhou no café. Talvez por isso só depois que ela saiu ele tenha percebido o bilhete na geladeira, onde se lia, naquele mesmo arial 14 meio apagado:

"19".

Não deu muita bola, arrancou-o e jogou fora. Passou um outro ótimo dia descobrindo o prazer de escrever a primeira coisa que lhe veio à cabeça para uma coluna de jornal, e a segunda, para uma revista. De tarde, achou por bem de tentar transformar uma estória em que tinha pensado desde criancinha num romance, o que começou a fazer com muita facilidade - e mais erros gramaticais do que gostaria de admitir, mas nada demais para quem tinha revisores. Helena voltou cansada e dormiu logo; ele ficou feliz de servir-lhe de travesseiro, e observá-la até que, por volta de uma da manhã, entusiasmado demais para conseguir dormir, foi até a cozinha comer alguma coisa e notou outro bilhete, no mesmo lugar e da mesma forma, escrito:

"18".

Recusou-se a aceitar o óbvio e absurdo significado daquilo. Amassou o bilhete, jogou-o fora e foi dormir.

No dia seguinte foi visitar a irmã e os dois sobrinhos de Helena, que não pôde disfarçar o encanto com eles por mais que dissesse que já estava cansada de crianças. Ele deu-se melhor com as pestes do que imaginara; podia ver nos olhos dela que iria querer uma, mais tempo menos tempo, e que ia acabar concordando. Mas não ainda. Gostava da vida de casado. Ou estava gostando naqueles dois dias, e era como se tivesse gostado pelos dois anos anteriores. Para mostrar isso, saíram à noite para uma peça, e depois para uma boite, onde encontraram alguns conhecidos e amigos, beberam, e voltaram pra casa com duas horas de prazo até o amanhecer, que foi quando realmente dormiram.

Charles tentou não olhar para o bilhete escrito "17". Fingiu que não estava lá enquanto descobria o prazer de encontrar a coluna que escrevera 2 dias antes nas costas do segundo caderno, e assim que terminou o café e soube que Helena tinha ido fazer compras, foi jogar futebol com os amigos no clube. Já não conseguia dizer quais deles eram seus conhecidos de muito tempo, e de quais ia se lembrando conforme via; parecia que os conhecia todos há muitos, muitos anos, e que via ao menos uma vez por semana aos domingos, quando colocavam a conversa em dia, riam, bebiam, e lembravam dos velhos tempos. De lá alguns ainda saíram para um bar na beira da praia, o que aparentemente também era tradicional. Muitos elogiaram a coluna dele, que haviam lido mais cedo.

Um bilhete com o número 16 estava pendurado na geladeira quando chegou, sendo prontamente jogado fora.

Passou a segunda-feira que se seguiu escrevendo até ficar entediado, apagar tudo que tinha feito, e ir pedalar na praia. Quando sentou-se no Arpoador para assistir ao pôr-do-sol, conseguiu admitir para si mesmo que, por mais absolutamente insano que aquilo pudesse parecer, os bilhetes na porta significavam exatamente o que ele temia, e que provavelmente não podia fazer nada a respeito, fora aproveitar muito a oportunidade que lhe fora concedida.

De volta à casa, conversou um pouco com Helena e a amiga do trabalho que viera lhes visitar, e dormiu um sono tranquilo. A esposa o despertou com beijos por volta das 8, e só saiu uma hora e meia depois, atrasada para o trabalho. Ele tornou a dormir, e só acordou para o almoço, passando o resto do dia escrevendo o tal romance.

"15".

Dia seguinte foi ver seu agente literário, seu editor e seu advogado, nesta ordem. A proposta para o novo romance foi aceita, e ele prometeu trabalhar com dedicação exclusiva nele a partir do mês seguinte. O contrato fechado lhe valeu uma quantia adiantada considerável. Helena chegou tarde em casa, mas teve ânimo para beber um vinho para comemorar.

"14".

Ela não teria de dar aula nesse dia, por isso passaram-no juntos. Charles a convenceu a usar o dinheiro inteiro do adiantamento para fazer um cruzeiro de uma semana, assim de repente. Bastava ela aproveitar as férias letivas, que começavam semana seguinte. Ela comentou como adorava essas maluquices dele.

"13".

Foi comprar as passagens. Teve dificuldade em achar uma viagem que coubesse exatamente dentro das menos de 2 semanas que lhe restavam, mas conseguiu fazê-lo ao fim da tarde. Navegariam apenas 3 estados pela costa do país, pegando um navio que partira alguns dias antes do sul, mas era mais que o suficiente.

"12".

Escreveu um poema que julgou particularmente bom, pensando em Helena. Caminhou pela praia com Bernardo, um de seus amigos, e surpreendeu-se ao ver que já não sabia dizer de qual vida, esta ou a anterior, o conhecia.

"11".

Ao suspirar enquanto via Helena entrar pela porta do banheiro da suíte, Charles não pôde deixar de pensar que tinha se acostumado com aquilo um pouco demais, e não imaginava como conseguiria retornar a sua vida anterior, se é que retornaria. Partiram de navio à tardinha.

"6".

Fizera muitos poemas no navio, em todo tipo de superfície de papel que encontrava. Tinha pego gosto pela coisa, depois que começara. Ela também gostava.

"4".

Gastaram quase todo o dinheiro restante em bebidas caríssimas, e jogaram-se de roupa na piscina. Não deu muito certo: a água fria quase curou-lhes da bebedeira, e ele resfriou-se. Mas rendeu boas risadas.

"3".

Charles tinha dito "eu te amo" diversas vezes nas últimas duas semanas, mais por reflexo do que outra coisa, porque era o que pensou que deveria dizer para manter o "disfarce". Mas em dado momento do dia, enquanto observava Helena escovar os dentes, pensou consigo mesmo que, mesmo conhecendo-a há apenas 17 dias, na realidade não estava disfarçando coisa nenhuma.

"2".

Chegaram à tardinha e, como tinham passado a madrugada e a manhã inteira no quarto sem dormir direito, desmaiaram sem desfazer as malas.

"1".

Desfizeram as malas. Charles nunca pensara que seu falso metodismo pudesse encontrar algum par, mas, acompanhado de Helena, sua tarefa relativamente simples levou o dia inteiro.

Foi dormir abraçado a ela, com o rosto quase colado, fitando-a, meio temeroso de que alguma coisa a arrancasse de si no meio da noite. Em algum momento, despertou do sono com ela levantando para ir ao banheiro, e tentou impedi-la com toda força que a imensa sonolência lhe permitiu; ela apenas riu do que supunha uma brincadeira, e saiu.

Não voltou mais. O resto da noite mal-dormida de Charles passou como num piscar de olhos, um desses sonos sem sonho.

Ele ainda se perguntou se não teria sido um sonho imensamente grande e elaborado, enquanto acordava em seu apartamento na Glória, com seu despertador velho, pronto para ir para seu emprego entediante de cobrador, viver sua vida medíocre de solteiro de quase meia-idade, num beco-sem-saída amoroso, financeiro e profissional. Depois pensou que não, que havia detalhes demais em seu sonho, e ele não os esqueceu conforme foi levantando da cama e vivendo a rotina. Sonhos mesmo, às vezes lembramos algo deles, mas dificilmente tanto. E não precisou nem anotar. Essa foi a primeira coisa que o levou a descartar essa hipótese. As demais foram, na ordem em que as descobriu:

Ainda estava ligeiramente resfriado.

Colada em sua carteira de identidade, havia uma foto de Helena. Estava incompleta, rasgada, e o material denunciava que aparentemente havia sido retirada de alguma revista. Também sua identidade teimava em deixá-lo 5 anos mais velho do que desejava. Mas era ela na foto, tinha certeza.

Quando ligou o computador mais tarde, descobriu em seu disco rígido o trecho do romance que tinha começado nos últimos dias. Como infelizmente não encontrou também o contrato com a editora, decidiu que seria melhor transformá-lo num conto, e o escreveu inteirinho de uma vez ainda naquele dia.

Pouco antes de ir pra cama, ao passar na cozinha para tomar uma pílula de vitamina para melhorar do resfriado, viu um bilhete na geladeira, escrito em letra arial 14 meio falho, onde se lia:

"20".

2.7.05

Perfeição

Há certos ódios meus que de maneira desmotivada tendem a assumir maior ou menor manifestação; ou motivada mas de forma imperceptível - o que, vá lá, dada minha percepção risível, não quer dizer grande coisa.

Esta semana quando ouvi um candidato a geniozinho dizendo que, se tinha uma coisa que a vida tinha ensinado a ele (ao longo de todos os 19 anos), era que o ser humano é imperfeito mesmo e isso não pode ser mudado, senti vontade de enfiar sua cabeça na parede e esmurrar até virar paçoca. Piorou um pouco quando fui comentar isso em tom irônico com um colega novo, e ele retrucou no ato que, ora, pensar assim não pode nos impedir de progredir.

O blog está então sendo forçado a assumir o posto de substituto de saco de areia, mas com o bem-vindo adicional de me ajudar a pôr a cabeça em ordem, sem falar na ilusão do público - como visto, tenho achado o público bom, o que muito me assusta. Então, senão vejamos porque ambos exemplares de homo sapiens são ou, ao menos, sabem com tremenda eficácia passarem-se por, completos idiotas.

Primeiro, o rapazinho já ganha o prêmio de imbecil presunçoso do ano pela tentativa de creditar-se com a invenção da roda. "Uma coisa que a vida me ensinou"? Especificamente a parte da vida em que ele assistia as aulas no primário, imagino. Ou mesmo um sermão do pai, mãe, tia, avó, carteiro, leiteiro, atendente da loja de conveniência do posto, vai ver até do irmãozinho mais novo: essa é mais velha que cagar sentado, espertinho, parte integrante da milenar herança cultural ocidental - aliás, acho q foi o João Ubaldo que já disse isso uma vez, mas não é incrível como se esquece que a cultura ocidental também é milenar?

O que nos leva ao ponto aonde eu queria propriamente chegar, esta maldita fascinação com os números, com a quantificação, o progresso, a comparação criteriosa absolutizada e, talvez o pior de tudo, a aculturação que faz com que a população em geral nem desconfie de que esse tipo de coisa foi desenvolvido num certo período e local da história do mundo e não nasceu do ovo.

"O ser humano é imperfeito" pode parecer uma afirmação muito simples, incontestável e evidente, se não for seguida da reflexão que lhe é obviamente decorrente: o que, então, é perfeito? Falha minha, não posso afirmar com proficiência que a idéia de perfeição como entendemos hoje não tem precedente nenhum no oriente, ou em outras culturas que não a grega clássica (palavra que, por sinal, também implica a idéia de perfeição), onde nasceu em estreita ligação com os conceitos de bem, beleza, ideal divino e toda a parafernália pitagórico-platônica-aristotélica. Vamos lá, você já deve ter lido qualquer comentário de um dos milhares de novos pseudo-intelectuais que, como eu, leram um pouquinho de Nietzsche e julgaram ser sua missão na Terra destruir a noção de perfeição conforme construída ao longo de nossa história: significa que estou correndo o enorme risco de repetir uma ladainha que já lhe seja velha conhecida. Mas, que diabo, repetição nos ajuda a guardar as coisas, então digo mesmo.

Não existe esse negócio de perfeição absoluta. "Você quer dizer que não existe no mundo real?" Não, palerma, quero dizer que não existe mesmo. Perfeição requer critérios, critérios requerem metas, e metas requerem anseios. Você, ser humano de perspectiva parcial e limitada, a não ser que seja o novo Buda, não vai conseguir criar um critério de validade absoluta para toda e qualquer ação ou estado do ser, que responda a todos os anseios, até porque não preciso nem explicitar o quanto isso é paradoxal e, você adivinhou, uma visão particular do conceito de perfeição. Pra dizer a verdade, não vai conseguir criar nem para uma ação qualquer, excetuando-se situações de especificidade momentânea - pense em coisas que dizemos corriqueiramente, como "fulano é o mais rápido do mundo", quando na verdade o que dizemos é "fulano foi o mais rápido no dia tal, em tal lugar, tal hora, correndo em tal pista, tal distância, com tal roupa", frase na qual também levamos em conta o estado de espírito dos competidores, presença de coisas como torcida, vento, número de gotas de suor que desceram por sua pele, enfim: coisas do momento. Uma medição atemporal e acircunstancial? Que eu saiba, só na matemática que, você já deve ter percebido, é um tipo bem particular e parcial de ficção.